terça-feira, 25 de setembro de 2012

CRISTÃOS CEGOS

A Bíblia relata a história de um cego de nascença que vivia diariamente da esmola alheia. Certo dia alguém chegou, aplicou uma mistura de terra e saliva sobre seus olhos e mandou que se lavasse. Ao limpá-los, aquele deficiente físico passou a ver pela primeira vez na vida. Os fariseus o interpelaram sobre como fora curado – e no sábado. Ele se limitou a contar sua história: “Eu era cego e agora vejo!”. O próprio processo da cura foi sumariamente relatado por João (no capítulo 9 de seu evangelho): lavou os olhos e voltou vendo. O fato em si não tem tanto peso para o evangelista quanto a explicação e o confronto posterior com os religiosos.
De maneira magistral, João tece uma discussão que contrasta a cegueira física com a cegueira espiritual. O cego viu, por obra de Jesus. Os fariseus levantaram um debate devido ao dia em que ocorreu a cura, sábado. Por ter feito o milagre no “dia errado”, nunca aquilo poderia ter partido de uma iniciativa divina. Deus não faria essas coisas. Certamente, nunca redefiniria o que o sábado significa. Há muitos elementos fascinantes nesse relato. Um deles é a crescente certeza e habilidade teológica do ex-deficiente. Ele começa por simplesmente afirmar o que aconteceu. Mas, face à oposição e à sabatina dos fariseus, cresce na sua afirmação sobre quem teria sido o responsável. Primeiro afirmou que não sabia quem era. Depois disse que certamente era um profeta. Teve até de recorrer à ironia, uma vez que os fariseus passaram a acusar Jesus (a quem ele ainda não conhecia) de ser pecador. Depois o próprio homem que havia sido curado foi atacado. Mas o ex-cego mostrou que conhecia a Lei e sabia algo sobre Deus. Todavia, ainda não conhecia Jesus. Quando o Cristo se apresentou, aquele homem fez o que todo bom judeu faria na presença de Deus: o adorou. É claro que conhecemos Jesus. Temos muitas informações a seu respeito. Todavia, há detalhes no texto que nos constrangem. O principal volta à primeira afirmação de Jesus: “Este homem está cego, não porque os seus pais pecaram, mas para a glória de Deus”. Imagine. O Senhor permite que alguém passe a sua vida nas trevas e, somente após uma vida de mendicância e humilhação, é curado – e tudo aquilo por uma razão: a glória de Deus. “Não”, poderíamos argumentar, “Jesus não é assim, Deus não é assim, imagine. Isso seria um pecado!”. Como seres iluminados que somos, de sensibilidades democráticas e pós-modernas, sabemos que o homem nasceu cego porque nasceu cego. Pronto. Nada mais do que isso. Mas… não foi o que Jesus falou. Passamos por cima dessa afirmação profundamente desconfortável e vamos direto para a cegueira dos fariseus. Sabemos quem é Jesus, afinal. Mas será que enxergamos Jesus? Nossa doutrina nos leva a bons argumentos. Sabemos discursar, discutir, debater. Muitos estão despertando para teologia – e é bom que seja assim. Melhor do que nos entregarmos a uma vida espiritual apenas desmiolada e passional. A teologia arde em nosso peito, somos tomados de zelo pelas verdades das Escrituras. Mas não somos os primeiros. Após a ressurreição de Jesus, alguns discípulos estavam a caminho de Emaús. Alguém se juntou a eles e perguntou sobre o que estavam discutindo. Eles literalmente perguntaram “você é o único visitante em Jerusalém que não sabe das coisas que ali aconteceram nestes dias?” Seguiu-se então um diálogo, em que Jesus lhes apresentou a verdade sobre si mesmo, discursando a respeito das Escrituras. O coração deles foi movido, ardendo com as verdades sobre o Messias. Mas somente no momento de partir o pão viram Jesus por quem ele era. Maria, ao lado do túmulo vazio, chorou pela perda do seu Mestre. Aquele que muito a tinha perdoado. Aquele que tinha lhe oferecido uma vida completamente nova. Viu alguém e perguntou ao homem se havia levado o corpo do seu Senhor embora. Foi então que Jesus falou: “Maria”. Ela voltou-se para Ele e disse: “’Rabôni!’ (que significa Mestre)”. Jesus pode abrir os nossos olhos e ainda assim ficarmos cegos para quem Ele realmente é. Podemos enxergar a verdade mas ficar aquém da revelação gloriosa que nos leva a cair de joelhos e adorá-lo. Tratamos a Bíblia com critério e com um crivo que tenta explicar que Jesus não é bem assim como ela diz. Tentamos justificar que Deus não pode fazer o que as Escrituras dizem que fez e pelas razões claramente expostas nelas. Imagine, um homem cego para a glória de Deus! Absurdo! Desumano! Sou um defensor da sã doutrina. Se não estudarmos bem as Escrituras não seremos “servos aprovados.” Mas doutrina não é suficiente para mim. Quem se prende apenas a ela perde o melhor de tudo. Quem apenas vasculha as Escrituras se esquece do que elas nos apontam. Paulo disse: “Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos. Não que eu já tenha obtido tudo isso ou tenha sido aperfeiçoado, mas prossigo para alcança-lo, pois para isso também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado, mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.” (Fl 3.10-14). Tenho me debruçado sobre as Sagradas Letras. Tenho lido inúmeros livros de eruditos, verdadeiros santos da história da Igreja. Tenho procurado coerência nas minhas ideias sobre Deus e as coisas concernentes a Ele. Mas foram muitas as vezes em que caí no chão, tomado por reverência, gozo e temor e, de coração partido, exclamei “meu Deus e meu Senhor!”. Para que isso aconteça, as escamas têm que cair dos meus olhos. Preciso de um encontro pessoal com o Mestre. Preciso ouvir a sua voz chamar o meu nome. Preciso ouvi-lo dizer “sou Eu”. Só de ouvir isso… tudo muda. A angústia por precisão doutrinária e ortodoxia é substituída por devoção, por doxologia. Jesus mesmo disse: “Esta é a vida eterna: que te conheçam o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” (João 17.3). Precisamos ver Jesus. Sinto um fogo em meu peito. As Escrituras me comovem. Mas quero mais. Preciso de mais. Preciso que minha cegueira crônica seja curada. Pois, mesmo na luz, costumo não ver o Mestre como Ele realmente é. As Escrituras me chocam, vez por outra. Rejeito o que parecem dizer a seu respeito. Se tão somente me permitisse olhar para Ele e ver… com certeza haveria menos debate e mais adoração. E certamente haveria mais silêncio e lágrimas. Na paz,

Pornografia – o que é e como se livrar dela

Queridos, eu Paulo Koral recentemente ouvi falar sobre um artigo na revista cristã “First Things” e fui pesquisar e esse arquivo já traduzido é claro me mostrou a essência da pornografia: não é social nem uma expressão de carência afetiva ou física, mas a expressão de um problema espiritual da maior gravidade. A raiz da questão se acha num dos “oito pecados mortais”. Muitos conhecem os, ditos, sete pecados capitais. Mas, historicamente, sempre houve oito. O que caiu em “desuso”, por assim dizer, é o conhecido como “Acédia” (uma palavra do latim que ainda não tem uma correspondência na língua portuguesa moderna). Esse pecado pode ser definido como “o vício de duvidar do amor de Deus e o abandono da busca de achar o seu prazer nele”. Segundo Gregório, o Grande (monge que virou papa dos católicos e tornou-se conhecido como o pai do estilo de música sacra chamado Canto Gregoriano), esse vício tem seis filhas: malícia, ressentimento, fraqueza de vontade, desespero, lerdeza no obedecer os mandamentos e a errante inquietação da alma. A Errante Inquietação da Alma Essa filha da Acédia é a causadora de voyeurismo (o desejo de ver o que não deve, também conhecido como “a cobiça dos olhos”). Em 1 Jo 2.15-17 achamos a seguinte anatomia do pecado: “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo – a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens – não provém do Pai, mas do mundo. O mundo e a sua cobiça passam, mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre”. Tomás de Aquino, na obra literária “Summa Teológica”, disse que o passeio do olhar (inspectio spetaculorum) se torna pecaminoso quando nos torna propensos aos vícios de lascívia ou crueldade por conta das coisas vistas. De fato, a Igreja sempre soube que o desejo dos olhos e o da carne se retroalimentam e reforçam um ao outro. Seja pela barbárie de um programa como o do Ratinho, pela indiscrição de um BBB ou por um website pornográfico, esses pecados brutalizam e criam uma compulsão avassaladora e escravizante. A pornografia acaba se alojando na alma da pessoa presa por esse tipo de pecado e a torna escrava, sem, no entanto, fazer com que ela alcance a verdadeira satisfação. Sempre deixa um vazio ainda maior. Pior, o escravo deste pecado despreza o valor transcendente do ser humano e acaba apagando do seu imaginário o sagrado – literalmente a imagem de Deus no seu próximo. Em outras palavras, a pessoa se torna um objeto somente. Essa frieza adentra a alma e apaga a luz de Deus que nela está. Por isso Jesus disse em Mateus 5.27: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Não adulterarás’. Mas eu lhes digo: Qualquer que olhar para uma mulher para desejá- la, já cometeu adultério com ela no seu coração. Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno”. E, em Mateus 6. 22: “Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!” Castidade – a única alternativa
Castidade não é um medo ou ojeriza da sexualidade, mas a valorização da natureza sagrada do ser humano, inclusive no que diz respeito a sua privacidade e o exercício sacro da sua sexualidade. Mas a castidade sexual é uma consequência direta da castidade espiritual. Castidade espiritual é a união das suas afeições a Deus somente. Ele, afinal, é o único merecedor de todo o nosso amor. Por isso é que diz em Deuteronômio 6.4: “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração.” A única defesa contra a pornografia Se a nossa alma não estiver cheia de Deus, viveremos necessariamente a “errante inquietação da alma”. A alma tem sede. A alma tem fome. Se houver um vazio, faremos por onde para enchê-lo. Se não estivermos cheios de Deus, nossa alma vagará buscando o que poderá enchê-lá. Mas não existe alternativa. Não existe o que possa encher a alma sedenta. Como disse Agostinho, no seu livro “Confissões”: “A minha alma vivia irrequieta até que achou pouso em Ti”. Pela devoção a Deus, pela leitura das Sagradas Letras e pela oração descobrimos uma paz e um silêncio íntimo que, quando cultivados, fazem com que as coisas vãs, sujas e efêmeras deste mundo nos pareçam o que são – uma mesa de imundície repulsiva para quem já se alimentou de finos manjares celestiais. Em resumo: quanto mais cheio de Deus, menos espaço sobra para qualquer outra coisa. Muita paz e graças para todos os irmãos. Na paz,